segunda-feira, 2 de abril de 2012

Um Cadim de Minas Pro Cês #8 – Tavinho Moura

Estrelada (M. Nascimento/M. Borges) e Manoelzinho da Crôa (Tavinho Moura)

Tavinho Moura é mineiro de Juiz de Fora. Músico, cantor e compositor. Seu primeiro trabalho como compositor foi para o cinema, trilha sonora do filme de longa metragem O Homem de Corpo Fechado, de Schubert Magalhães. No primeiro Festival Estudantil da Canção, ganhou o segundo lugar com a música Como Vai Minha Aldeia, parceria com Márcio Borges. Deste festival participaram vários compositores que viriam a ser seus amigos, parceiros e músicos em futuras gravações, Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Milton Nascimento, Túlio Mourão, Murilo Antunes entre outros. Discos e CD´s: Como Vai Minha Aldeia (RCA), Tavinho Moura (RCA), Cabaré Mineiro (EMI/Odeon), Engenho Trapizonga (EMI/Odeon), Noites do Sertão, patrocinado pela Cenibra, Cabloco D'água-Intrumental de Viola (Velas), Trindade- Tavinho Moura, Marcus Viana e Carla Vilar (NS), O Aventureiro do São Francisco (Quilombo/Warner), Diadorado- Instrumental de Viola (Velas), Conspiração dos Poetas, Tavinho Moura e Fernando Brant, participaçào especial de Beto Lopes (CD Minas), O Tronco (Raiz), e o mais recente CD Cruzada (Lapa discos). Paralelo ao trabalho de disco Tavinho se dedica a composição para o cinema. Cabaret Mineiro, Perdida, Noites do Sertão, Minas Texas, Idolatrada, O Bandido Antônio Dó, Vivos ou Mortos, Amor e Cia, O Tronco, entre outros. Recebeu prêmios como melhor autor de Trilha Sonora nos festivais de cinema de Gramado (3 vezes), Brasília (3 vezes), prêmio da crítica de São Paulo e Minas, Coruja de Ouro. A trilha sonora do filme Amor & Companhia de Helvécio Ratton ganhou o Prêmio do III Festival do Cinema Brasileiro de Miami. Outros trabalhos foram realizados para teatro e ballet, destacando-se O Padre e a Moça, com coreografia de Gilberto Mota, para o Palácio das Artes, comemorando os oitenta anos do poeta Carlos Drummond. Algumas de suas composições foram gravados por Milton Nascimento, Beto Guedes, Almir Sater, Boca Livre, !4-Bis, Flávio Venturine, Simone, Pena Branca e Xavantinho, Engenheiros do Havaí, entre outros. Seus principais parceiros: Fernando Brant, Márcio Borges, Murilo Antunes, Milton Nascimento, Beto Guedes, Ronaldo Bastos. Realizou recentemente a ópera popular Fogueira do Divino em parceria com Fernando Brant. Apresentada no Palácio das Artes sob a regência de Nelson Ayres, com arranjos para orquestra sinfônica de Nivaldo Ornelas, coro, nove interpretes, o espetáculo foi gravado ao vivo e o CD já lançado pela gravadora Dubas de Ronaldo Bastos. A convite da Rhythmic Music Conservatory de Copenhagem participou da semana de música brasileira na Dinamarca, oferecendo um curso sobre sua música, ritmos e harmonias da música mineira. Foi gravado no mês de maio de 2004 um CD com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, interpretando 16 obras de sua autoria, com arranjos e regência de Wagner Tiso. LEONARDO MAGALHÃES GOMES ESCREVE SOBRE LIVRO DE TAVINHO: OURO EM CIMA DE OURO: A prosa poética de Tavinho Moura “Dos ríos – un de clara fama (...); otro, casi secreto (...) – juntan aquí sus aguas. La mitología no es una vanidad de los diccionarios; es un eterno hábito de las almas. Dos ríos que se juntan son, de algún modo, dos númenes antiguos que se confunden.” (Jorge Luis Borges) Compositor do primeiro time brasileiro, cantor e instrumentista dos melhores, Tavinho Moura pode se orgulhar de uma carreira artística que prima pelo rigor estético, coerência e fidelidade a si mesmo e ao caminho escolhido. Sua contribuição para nossas vidas ultrapassa mesmo o prazer de ouvir suas belíssimas canções: ele tem sido um infatigável pesquisador, descobridor e divulgador da cultura mineira, e, com isso, tem nos despertado para a enorme riqueza, variedade, e possibilidades desse patrimônio maior de Minas Gerais, sua gente e a cultura que dela se origina. Apesar de ter sua obra musical já consagrada e incorporada ao cancioneiro nacional, Tavinho não descansa e percorre, como o autêntico descobridor que é, uma outra vereda, a da criação literária, e nos presenteia com mais um mimo: o ciclo de estórias barranqueiras Maria do Matué, Uma estória do Rio São Francisco. É uma série de estórias, ou melhor, de poemas em prosa em que, pela boca da personagem título, é narrado o transcorrer da vida nas proximidades ou na margem mesma do Rio São Francisco. Por eles passam tanto os personagens do rio quanto os do mato: os vapores, os canoeiros, faiscadores de ouro, jagunços, onceiros, os festeiros da Marujada, gente de variadas etnias como os matueiros, comedores da lesma do caramujão, os gringos em busca do ouro, os mais diversos animais, seres reais e mitológicos. Nas estórias encontramos a cultura da margem do rio, suas festas, hábitos alimentares, cosmogonia e, principalmente, sua mitologia. Mas sem nenhuma pretensão ao reducionismo folclórico, Maria do Matué é literatura – e de primeira qualidade. Por que poemas em prosa? Porque mais importante que o enredo específico, os acontecimentos que têm seqüência lógica, clímax dramático e desenlace – embora eles existam e sejam narrados com clareza – a estória flui pelas lembranças da narradora, por sua mente e alma, como o rio em seu leito, e, até, como ele, algumas vezes transborda, quando o leito é pouco para a impetuosidade da corrente. Nesse fluir, acompanhamos a caminhada de Maria pela vida, suas lutas, a decisão de largar tudo e recomeçar em outro lugar, guinada necessária quando o casamento naufraga; os perigos enfrentados com a coragem simples dos fortes, as angústias e perdas, as alegrias e contribuições, que deságuam, como verdadeira poiesis, no despertar da consciência individual e construção do mundo consciente bem sintetizada no trecho: Caminho para o fim cada vez mais sabendo de mim. Com o orgulho da minha vida de barranqueira desse Rio de São Francisco que de tão grande me põe no mundo todo. O autor guia o leitor através desse processo com mão de mestre, e demonstra ter dominado o novo meio com segurança rara até mesmo em gente mais experimentada, pois, apesar de Tavinho ser um artista maduro, esse é seu primeiro livro de ficção. Os maiores perigos, nesse caso, são o colorismo fácil, o falar errado, em que o defeito se transforma em efeito e o uso dos exotismos em um regionalismo de pacotilha. Nada disso acontece em Maria do Matué. Consciente de uma tradição literária de que fazem parte nomes como Afonso Arinos, Godofredo Rangel, Mário Palmério e Guimarães Rosa, o escritor trabalha seu texto com toda a limpeza, precisão de linguagem e cuidado necessários para honrar essa tradição, e consegue. Maria do Matué é uma grande contribuição, mais uma na verdade, desse artista, para nossa cultura. Como na peixada de dourado com mel de mandaçaia, temos o ouro da cultura popular realçado pelo ouro da prosa poética de Tavinho Moura. Como se não bastasse tudo isso, o livro nos reserva outras surpresas que aumentam ainda mais seus atrativos: sua apresentação gráfica e o CD incluso com composições de Tavinho Moura. A apresentação gráfica, criada pelo escritório Hardy Design, é de primeira qualidade; além disso, o livro vem acompanhado de uma aquarela de Mario Zavagli e de ilustrações de Jorge dos Anjos. A aquarela de Zavagli representa a região abrangida pelas narrativas de Maria do Matué. Como é tradicional nesse artista, trata-se de obra de alta criatividade, em que são representados, com a poesia inspirada pelo texto, os lugares por onde andou Maria. Os desenhos em preto e branco de autoria de Jorge dos Anjos são, na verdade, grafismos que ilustram o texto de maneira sutil e dão ao leitor uma visão onírica dos personagens e situações apresentadas. Como convém às boas ilustrações, elas comentam o texto de maneira mais a estimular a imaginação do leitor do que a lhe dar uma imagem definida dos elementos representados. O CD tem 12 faixas, todas de autoria de Tavinho Moura, umas em parceria com gente como Fernando Brant e Ronaldo Bastos, e outras somente dele, em que o universo ribeirinho do livro é tratado de maneira musical. Não são ilustrações literais do texto, mas representações paralelas do mesmo universo poético – afinal, o Rio São Francisco vem sendo um tema recorrente na obra de Tavinho Moura. Há canções já conhecidas, como Chico Caminhador e Porto das Flores, gravadas pelo Trio Amaranto, e outras inéditas. Chamo a atenção para a participação das cantoras Mariana Brant e Poliana Cruz, que demonstram total afinidade com as músicas apresentadas. O CD mantém a qualidade já conhecida pelos apreciadores da música de Tavinho. Elogiar a obra musical de Tavinho Moura é chover no molhado, já que nesse campo ele está entre os grandes. Esperamos que esta conjugação da poesia literária com a poesia musical desse artista seja a primeira de muitas outras dessa nova fase de sua carreira.

Fonte: http://www.myspace.com/tavinhomoura

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